Resenhas

Aquiles Rique Reis

Música que vem de Curitiba

 
Para melhor compreender o que é o Trio Quintina, proponho uma pequena conta: dois mais um é igual a dezesseis. A conta não bate, claro, mas certamente dá uma pista do que é o som dos curitibanos Fabiano Silveira, o Tiziu, e dos irmãos Gabriel e Gustavo Schwartz.
Ao gravarem seu quinto álbum, Quintina Orquestra Trio (Sete Sóis), os caras, que também compõem individualmente e em parceria entre eles, resolveram provar como é ser uma mini grande orquestra brasileira. Tiziu toca violão de sete cordas e canta; Gabriel vai de clarinete, bateria, flauta, saxes tenor e alto, pífano, flautim, pandeiro, percussão e canta; já Gustavo se desdobra em guitarra, cavaquinho, piano, percussão, pandeiro e também canta.
A pegada deles é rock e é samba. É sóbria e é delirante. É moderna e é tradicional. Tudo ao mesmo tempo, agora mesmo, já. Suas composições permitem que desenvolvam um conceito autoral que os identifica e impulsiona. Letras criativas, por vezes sutis, às vezes melancólicas, melodias e harmonias instigantes, e uma performance instrumental que os põe à frente do cenário da música moderna. Aliás, imaginá-los no palco é exercício instigante.
A exatidão com que tocam, contagia. O suingue é presente. Próximos de serem multiinstrumentistas virtuosos, o jeito que o Quintina tem de se desdobrar em mil facetas faz parecer que já se conhece o que tocam. Ainda que interpretem composições próprias e inéditas, tudo soa com uma familiaridade que, numa primeira audição, até espanta. Mas na medida em que os ouvimos mais, percebemos claramente que tudo neles é baseado numa coletividade solidária, revelada em arranjos de extrema criatividade.
Quase não há espaço entre as catorze faixas do CD, o que cria a expectativa de como o fim de uma se fundirá com o início da outra. E os sopros, principalmente os saxofones, com desenhos marcantes, são peças fundamentais nas orquestrações.
A guitarra registra contrapontos embalados pelo pulsar pop da bateria. O sete cordas soa bonito, não deixando sentir falta de um contrabaixo. Assim é em “Cuidado”, samba de Gabriel.
Há uma bela releitura do clássico “Água de Beber” (Tom e Vinícius), e duas composições instrumentais que servem para o Quintina realçar seu prazer de tocar.
Mas o talento dos três se desvenda pleno em “Culpa” (Gustavo). Tudo começa lentamente... violão e guitarra. A bateria é delicada. E vem um crescendo. A pulsação aumenta. A guitarra deixa de ser melodiosa e distorce o som. A voz de Gustavo vai atrás da intenção explosiva do arranjo. O piano a tudo interrompe. Agora tudo é calma...
Não à toa me ocorreu aquela conta fajuta lá no primeiro parágrafo, pois para muito além de desafiar conceitos numéricos, o Quintina ainda mais subverte parâmetros musicais e instrumentais. Ao juntar intenções diversas, mesmo que sob o guarda-chuva de ritmos tradicionais, Gabriel, Tiziu e Gustavo trazem em suas músicas um festivo e saudável ar de enérgica música bem-soante.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4.



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