Resenhas

Ouvindo hoje: Fred Martins

Será que é possível vislumbrar nos dias de hoje a gravação de um disco de Bossa Nova, com os elementos que a constituíam em sua época de ouro.. ? Em outros termos, quero dizer: contando com arranjos e instrumental clássicos e intimistas, sem que o resultado soe ultrapassado ou contaminado por uma nostalgia perdida ? Na realidade, seria o mesmo que perguntar se hoje seria possível gravar um álbum pop ou rock apenas com duas guitarras, um baixo e uma bateria. Pois é, a pergunta é idiota - mas foi de propósito ! - e Fred Martins nos prova que sim, da maneira mais elegante, através de seu terceiro álbum solo, Guanabara, que homenageia a seus mestres que o levaram à música: Antônio Carlos Jobim e João Gilberto.

Desde os anos 80, a gente passou a escutar tantas saladas mistas do tipo bossa-lounge-eletro-pop, que o som tão simples do Fred nos parece original! E mais, Guababara não é uma enésima releitura de clássicos do gênero. Ele transita bem através de um álbum de treze novos títulos de sua autoria, sendo que alguns desses em parceria com letristas como Marcelo Diniz, Manoel Gomes ou Francisco Bosco.

Sem qualquer artifício, Fred na voz e no violão se faz acompanhar de Alex Rocha no contrabaixo, e de Marcio Baia na bateria; e além disso, no máximo, e bem a propósito, interveem aqui e ali um conjunto de cordas dirigido por Jessé Sadoc e uma sessão de metais conduzida por Marcelo Martins. Esses arranjos não deixaram de me evocar, por instantes, a sonoridade do álbum João (1991), de João Gilberto. No entanto, atenção!: Guanabara é um disco de musicistas para ser degustado ao longo de várias audições. De uma sorvida rápida, vocês podem vir a achá-lo uniforme. Esse não é um disco fácil, assim como não são as harmonias que Fred utiliza.

E se vocês tiverem um pouco de tempo, descobrirão que pequenas pérolas como Amo tanto, Agora é com você, Breve primavera ou Tudo teu - (para citar minhas preferências) - recompensarão sua paciência e levarão vocês a crer – talvez – que esses títulos se tornarão os novos clássicos... da Bossa Nova. Enfim, é interessante constatar que quanto mais nos dirigimos ao final das praias ensolaradas de Guanabara, mais o álbum resgata o estilo pop inicial de Fred, como em Doceamargo (que já estava no seu dvd « Tempo afora ») e Por um fio , que fecham o cd. Então, Guanabara: «The ultimate Bossa Nova Album»?

texto publicado no blog ART ET MUSIQUE POPULAIRE BRÉSILIENNE - MPB / APB, pelo jornalista belga, Daniel Achedjian.



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